Willkommen, Bem vindos, Welcome Meine Damen und Herren, Senhoras e senhores, Ladies and Gentlemen!
Esta atuação é uma celebração, uma festa de família muito especial, para falarmos sobre o nosso passado o nosso futuro e sobre as marcas que deixamos uns nos outros. Há mais de cem anos que nos conhecemos. Os Moçambicanos e os Alemães têm vivido juntos, têm-se amado, desamado e, conjuntamente realizado pequenas e grandes coisas! A história desta noite de teatro é feita de muitas histórias, contudo, há uma força que une todas essas histórias, esta noite é dedicada a esta força. Esta força, que está sempre presente na história e, mas que, não aparece em nenhum manual de história. O Amor. Hoje dedicamos esta festa de família ao Amor “.
Esta citação, da abertura da peça “Identidade – um romance danado” parece-me muito apropriada à introdução da exposição com o mesmo nome. O trabalho artístico sobre o assunto tem um fundo muito pessoal e iniciou-se com a minha mulher moçambicana, e os nossos filhos. Os grandes temas da identidade e emigração têm sido discutidos pela minha família praticamente todos os dias entre a cozinha e a sala de estar. Este tema levou-me a uma extensa pesquisa em bibliotecas e arquivos de filmes, seguido de numerosas entrevistas com testemunhas das Relações Moçambicanas e Alemãs. Toda esta informação foi complementada com viagens através de Moçambique e Alemanha, viagens estas que originaram as fotos e as curtas-metragens.
Logo após ter começado a escrever a peça ” Identidade – um romance danado”, foram-se adicionando incontáveis informações, pensamentos, declarações e o puzzle foi-se completando. Com a encenação da peça cuja apresentação seria em Maputo, eu estava de volta ao teatro. A princípio a minha atitude era como a maioria dos Alemães. Quando eu conheci aminha mulher, eu não sabia onde ficava Moçambique, nunca tinha conhecido um Moçambicano e nem sequer sabia que línguas lá se falavam. Há dez anos atrás, viajámos pela primeira vez a Moçambique. No dia em que chegámos a Maputo, fomos surpreendidos por centenas de moçambicanos com sotaque saxão, que se manifestavam nas ruas da capital acenando a bandeira da RDA. Eu próprio nasci, cresci na Saxónia, mas nunca vi um africano na RDA. Os manifestantes despertaram o meu interesse , e cheio de paixão, comecei a emaranhar-me, na história das relações entre alemães e moçambicanos.
Quando os nossos filhos nasceram com identidade mista, comecei a perguntar-me como é que iria ser quando crescessem na Alemanha e as outras criancas lhe perguntassem: “- vems de Africa?” O que saberiam eles sobre o país da sua mãe, o que é que eles iriam herdar da sua metade genética e como é que eles se iriam considerar, como alemães, como moçambicanos, ou como ambos?
Quase todas as pessoas têm uma ” relação romântica” com sua própria identidade. Os protagonistas contam com orgulho as experiências vividas e as lições aprendidas, ficando claro para mim que os aspetos sangrentos, ou seja, as experiências dolorosas têm o efeito mais enriquecedor na identidade e que, uma abordagem criativa da sua própria história, pode criar uma identidade sólida. Tal como os diferentes aspetos da identidade que influenciam a emigração, a linguagem, o sentimento de pertença, a profissão, a sexualidade, os interesses económicos e as dependências afetam a minha família na vida quotidiana, eu queria (era este o meu artístico ponto de partida para o projeto) fazer a ligação entre os dois países através de histórias pessoais. Estas histórias, refletem diretamente os principais temas da questão Norte / Sul e a histórica controvérsia Africa versus Ocidente, mas também mostra aspetos emocionais e interpessoais, tais como o “Amor“.
Jens Neumann Vilela / Janeiro de 2014 / Berlin
„Identity entered modern mind and practice dressed from the start as an individual task. It was up to the individual to find escape from uncertainty. Not for the first and not for the last time, socially created problems were to be resolved by individual efforts, and collective maladies healed by private medicine.“by Zygmunt Bauman „From Pilgrim to Tourist – or a Short History of Identity“